selo-ivanaldoPor Ivanaldo Mendonça – O grupo de vizinhos assumiu realizar a Novena de Natal preparando-se, espiritualmente, para a celebração do nascimento de Jesus. Cânticos, orações, partilha da Palavra de Deus, troca de experiências somados à criatividade dão o tom a cada encontro; uma pequena imagem, representando o menino Jesus acompanha o gruo, pernoitando em cada lar.

Realizado o encontro, no outro dia, pela manhã, a dona da casa percebera que a imagem do menino Jesus estava deteriorada; seu esposo, crente de outra denominação, numa crise de fúria, quebrara a imagem. Transtornada, buscara auxílio nos vizinhos que, igualmente, não sabiam o que fazer. Conforme as pessoas sabiam do acontecido, a inconformidade tomava formas diversas, de lágrimas a atitudes igualmente agressivas.

O que fazer? Interromper a novena? Prosseguir com a imagem quebrada? Alguém se dispôs a doar uma nova imagem. A notícia chegara ao padre do local que, servindo-se da ocasião, propôs às pessoas um exercício que permitisse reler o acontecimento à luz da fé, da esperança e da caridade, virtudes cristãs.

Mais por ignorância que por maldade, alguém imaginou que, agredindo um símbolo, uma imagem, afugentaria ou intimidaria um grupo de cristãos da prática da fé. Igrejas doentes alimentam o desrespeito e a intolerância em seus fiéis. O que antes era incentivado mais por razões políticas que religiosas hoje é inadmissível, sobretudo, por contradizer as raízes da fé cristã.

O fato oferece-nos oportunidade valiosa de reflexão: uma imagem é ‘apenas’ uma representação simbólica; agredi-la, embora seja desrespeitoso, não afeta, nem compromete a essência da fé. Deve nos incomodar, muito mais, as agressões explícitas às quais são submetidos nossos irmãos de carne e osso, feridos em sua dignidade: crianças impedidas de nascer, famílias inteiras em condições subumanas, idosos abandonados…

O ser humano é, por excelência, santuário onde Deus habita, Sua imagem e semelhança. Escandalizemo-nos sim, por estas agressões que, em sua maioria, nos passam despercebidas.

O fato ensina-nos a resgatar o verdadeiro sentido do Natal, cuja razão de ser não está no nascimento de um menino. A essência do Natal remete-nos à Páscoa, celebração da Ressurreição, manifestação suprema do amor de Deus que, em Cristo, vence definitivamente o poder das trevas, do pecado, da morte. O sentido do Natal está na Páscoa!

Nascer todos nascem, porém, ressuscitar, está como escolha a ser feita no pleno exercício da liberdade, na força da fé.

Parabéns ao pequeno grupo que, levando às casas a imagem machucada, concluiu a novena de Natal, ainda mais fortalecido. Obrigado, de forma especial, ao agressor da pequena imagem que, muito pelo contrário, ao invés de machucar, ajudou-nos a ultrapassar os limites da ignorância, mergulhando mais profundamente no verdadeiro sentido da fé cristã. O milagre do amor e da fé escondido no ‘menino Jesus’ mais uma vez, coloca-nos frente ao milagre do amor e da fé que, do alto da cruz, aponta-nos a eternidade. Deus nos presenteia todos os dias, com inúmeras possibilidades de tornar realidade este escândalo do bem!

Feliz e abençoado Natal, todos os dias!

Ivanaldo Mendonça, Padre, Pós-graduado em Psicologia