Por Ivanaldo Mendonça — É comum ouvir e fazer referências às atitudes de pessoas furiosas. Elas estão em todos os lugares. Pouco ou quase nada é o suficiente para fazer irromper seu poder devastador. Há quem, traumatizado, negue-se a qualquer contato com elas; outros, calejados, acostumaram-se a seus ataques; há quem as agrida na mesma proporção, tornando-se, igualmente, furioso.

Num dia de sábado, Ele entrou na sinagoga e, após ler uma passagem da Escritura, advertiu os ouvintes que, embora o admirassem, questionavam em seu íntimo sobre sua origem. “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. Quando ouviram isso todos ficaram furiosos, levantaram-se e expulsaram-no da cidade, levando-o até o alto do monte, com a intenção de lançá-lo ao precipício. Jesus, porém, passando no meio deles, continuou o seu caminho. 

O que impediu que os furiosos lançassem Jesus no precipício? Faltava tão pouco para que a questão fosse resolvida. A sabedoria e a fé ensinam que existem dois tipos de furiosos: furiosos-ignorantes e furiosos-malvados. Aos ignorantes falta clareza, entendimento, sensibilidade. Permanecem cegos, até que alguém se disponha a acender a luz. Aos maldosos, independentemente de quaisquer razões, sobra prazer por destruir. Sabem o que estão fazendo, agem propositalmente. 

Ele passa no meio deles! Como? Jesus lança um olhar amoroso sobre os que o agridem. A força deste olhar ultrapassa o físico, toca o coração, derretendo o gelo da ignorância. O amor bate à porta, pede licença, ocupa espaço, realiza a ação transformadora, dispensa palavras. Silêncio! Ele passa, livremente e segue seu caminho.

Entre as habilidades que a vida exige como sinal de maturidade e equilíbrio está a capacidade de lidar com os furiosos. Recusar-se a lançar um olhar amoroso sobre os ignorantes é ser omisso. Pode ser que a felicidade e libertação de um furioso-ignorante dependa necessariamente, do encontro amoroso com o meu ou o seu olhar, na medida em que somos instrumentos do amor de Deus. Deixar-se tomar pela fúria dos malvados faz-nos tão iguais ou piores que eles. Atenção! Não usemos as atitudes dos furiosos como justificativa e desculpa para não fazermos o bem, 

Lançar um olhar amoroso! Eis a solução! Os furiosos pela ignorância serão libertos; os furiosos pela maldade saberão que quaisquer que sejam, suas investidas jamais encontrarão morada em seu coração. Lidar com os furiosos é uma arte.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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